Tuesday, January 22, 2008

Cantiga de Cangaceiro


Cantador, saí menino,
cantando pelo sertão;
quando quiseram pisar-me,
pisei as pedras de chão...

Desde aí ganhei o mundo...
De noite, a minha viola,
de dia, o rifle na mão...

Onde estou, deitam comigo
na rede de estimação,
meu punhal e o tira-teima,
os dois no alcance da mão.

Para não perder o jeito,
a cartucheira cruzada
por cima do coração...

Cangaceiro, é no cangaço
que o meu destino me quer.
Comigo tenho de tudo,
para o que der e vier:

— carne-de-sol, rapadura,
meu beiju de mandioca,
fumo, cachaça e mulher...

O valente que me afronte
deve rezar com fervor,
e escolher reza pequena,
que eu não sou bom rezador.

Se me ouvir, não perde tempo:
eu tenho o corpo fechado,
morrer só morro de amor...
Judas Isgorogota

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