Saturday, September 15, 2007

O Amor

Vênus e Marte - Deusa do Amor e Deus da Guerra
Sandro Botticelli (1445-1510)



"E alguém disse:
Fala-nos do Amor

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor vos engrandece,
também deve crucificar-vos.
E assim como se eleva à vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol, também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações, onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo, e só recebe de si mesmo.

O amor não possui nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher, marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos, deverão ser estes:
Fundir-se e ser um regato corrente a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio-dia e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo e adormecer
tendo no coração uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.

Khalil Gibran

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