Um dia serei árvore,
com a maternal cumplicidade do verão
que pombos torcazes anunciam.
Um dia abandonarei as mãos
ao barro ainda quente do silêncio
e subirei pelo céu.
Às árvores são consentidas coisas assim.
Habitarei então o olhar nu,
fatigado do corpo,
esse deserto repetido nas águas,
enquanto a bruma é,
sobre as folhas que pousa, as mãos molhadas
e o lume.
Eugénio de Andrade
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